upa-pacima

...que a vida continua!

quinta-feira, setembro 20, 2007

Debute (II)


No meu primeiro dia de escola tinha vestido uma bata cor de café com leite e transportava, às costas, uma mochila verde com quatro meninos (duas meninas de tranças e dois meninos) de mãos dadas. Nessa mochila tinha três cadernos (um de linhas, outro de contas e um terceiro de desenho), um estojo com uma caneta BIC, um lápis Viarco e uma borracha Pelikan. Das canetas de feltro e dos lápis de cor não me lembro a marca.

Nesse dia a minha mãe acompanhou-me à escola e, porque tivemos de aguardar a chegada da “Senhora Professora”, conversou com as mães dos outros meninos. Nós, nós olhávamo-nos como desconhecidos. Quando a “Senhora Professora” abriu a porta a minha mãe lançou-me um desafio. Uma frase que demorei alguns anos a compreender. Hoje senti, mais uma vez, o significado desse repto, que a minha mãe me lançou há exactamente 30 anos.

Hoje, hoje que tive a minha primeira reunião a solo tenho vestido um caso quase da cor da bata, é Setembro (ok, naquela altura as aulas começavam em Outubro) e alguns meninos foram pela primeira vez à escola. A minha mala é verde e muita coisa mudou: sei ler, sei a tabuada e sei fazer contas e até ver as horas, e as línguas já deram os primeiros passos. Tanta coisa mudou! Tanta coisa! Mas tenho uma questão: o que será que as mães do século XXI dizem aos filhos quando os deixam pela primeira vez na escola?

Hoje debutei! (I)

Enquanto muitos meninos debutavam nas escolas, eu debutava no pleno desempenho da minha nova profissão. É verdade! Três meses depois de ter abraçado um novo desafio – o segundo a nível profissional – tive a minha primeira reunião a solo.

Olhos nos olhos, defendi a minha estratégia, o meu plano. Senti-me confortável na minha pele e se alguns entraram para a sala olhando-me de soslaio, saíram de lá a sorrirem-me. Convencidos? Conquistados? Não sei. As pessoas nem sempre são aquilo que parecem.

Agora, sentada no comboio, rumo a Sul, tenho no banco da frente umas “cromos” que conheço, mas que não consigo identificar de onde. Têm ar de tias. Falam alto e têm o cabelo com as cores das tias, daquelas tias sem sobrinhos. Uma delas gosta de homens magros e, de preferência, baixos. Os amigos dizem que se assim continua fica encalhada. A outra sorri, ou melhor emite sonoras gargalhadas. A vizinha das tias, olha para mim e, tal como eu, tenta concentrar-se em algo para não dar a entender que está(amos) a ouvir a conversa. Eu, eu tento escrever este post, que já tem o sentido inicial desvirtuado.

Ok, uma pista sobre uma das tias: trabalha num banco e tem um amigo que se chama Jorginho.

PS: este post foi escrito a 18 de Setembro

domingo, setembro 02, 2007

Reencontrar e ousar

Costumava vê-los em finais de Agosto alvoroços de Setembro. Vinham aos magotes, em carroças, viviam debaixo de lonas verdes, que montavam qual barraca, e traziam à terra, onde cresci, um misto de alegria e medo até final do mês de Outubro.

Nos campos as uvas maduras indicavam que a vindima se aproximava, nas figueiras os figos lembravam que o Outono estava a um passo, as andorinhas num vai e vêm constante preparavam-se para mais uma viagem rumo ao Sul. Eles, eles lá estavam nas suas barracas montadas bem perto da escola que por aqueles dias inaugurava mais um ano lectivo. Elas, elas tinham saias compridas, longos cabelos negros e muitos, muitos, filhos. Ah! E havia sempre muita roupa estendida, a enxugar.

Mas de tudo o que mais retenho, até porque menina que se prezasse não metia conversa com ciganos, é o cheiro a melancia. Um fruto que, quase de certeza, era o alimento único daquela gente que ali tão só procurava uns dias de trabalho, nas vindimas ou na apanha do tomate ou da azeitona. Sim, porque cigano que "se preze" não tem pouso, lugar certo e acompanha o Vento.

Vem tudo isto a propósito dos ciganos que encontrei há dias numa das estradas secundárias no Alentejo. Há anos que não via aquelas carroças, aquela gente que muda de terra ao sabor do Vento. Não eram aos magotes, mas foram os suficientes para recordar porquê sempre que cheira a melancia associo o aroma, a textura, a ciganos.

Foi lindo. Lindo, ver jovens e velhos ciganos nas suas carroças, com uma parelha de cavalos suplentes presa atrás e bem lá do alto dos seus pertences, dirigirem-se para onde só eles sabem.
Não resisti e parei os meus cavalos – movidos a gasolina – para assistir à debanda. Eles sorriram e, talvez por verem a minha expressão de quase euforia, fizeram-me “Adeus”. Retribuiu-lhes e senti-me bem comigo mesma.

Afinal… tanta coisa mudou desde a minha infância. Já cá não estás para te dizer, mas… eles apenas são pessoas que buscam um amanhã, que necessitam de seguir o Vento e por isso não assentam arraiais, num local que digam seu. Tu sabias disso, eu sei, mas dizias-me sempre para não parar perto deles e, se possível, evitar falar com eles… Desta vez não resisti: para além de ter ficado a vê-los seguir o seu destino, meti conversa com uma cigana. Sim, é que noutro local do Alentejo uma delas, bem simpática e que deve ter mais ao menos a minha idade, tinha um avental preto “decorado” com uns simples alfinetes com missangas…

O que será que o "crocs" tem?

Não sei o que têm. Mas, sei que 80% dos pés as usam. Nas minhas férias, cheguei a ver famílias inteiras com elas! Ou será com eles?

Verdes, cor-de-rosa, azuis, brancos(as), amarelos(as), roxos(as) ou “cor de burro quando foge”, estas sandálias ou chinelos – os ditos são bi :) - invadiram o país. As raparigas podem colocar nos crocs uma espécie de pin, que pode ser em forma de flor, animal… a imaginação não tem limites.

Porque não tem limites e a minha curiosidade é grande fui tentar perceber porquê as pessoas fazem questão de andar com sandálias/chinelos que parecem feitos de esferovite, parecem pesar toneladas e, sobretudo, são, são… ai… horríveis.

Conclusão: Tudo começou quando três empreendedores do Colorado, nos Estados Unidos, decidiram desenvolver e vender um tipo inovador de calçado chamado CrocsTM. Originalmente a ideia era vender calçado para barcos, devido à sola antiderrapante que não marcava o deck. Contudo, em 2003 os ditos tornam-se um fenómeno e são aceites como um calçado confortável e fashion para todas as ocasiões. Há, inclusivé, uma foto, já com uns anitos, de George W. Bush com uns crocs nos pezinhos. Em Portugal parece que foram os meninos dos Morangos com Açúcar quem deu o “tiro” das vendas. Mais “pesquisa” para quê?

Adoro os meus chinelos de enfiar no dedo. Daqueles que alguns mais fashion apelidam de “Havaianas”.

sábado, setembro 01, 2007

Sereias portuguesas

Upa pacima que esta Lisboa está a perder o puritanismo e a mostrar-se ao mundo!

Num meio-termo entre uma escultura de Miguel Ângelo, “anjinhos papudos” dos altares das igrejas e sardinhas, ou melhor Sereias, então não é que, hoje, encontrei em pleno Parque das Nações um painel de azulejos que me surpreendeu?

Passo a explicar: entre o edifício da Sonaecom e o da EMSA em plena Avenida D. João II, um painel de azulejos ostenta à esquerda excerto de "A Odisseia", aquela obra que Homero escreveu e que os entendidos dizem ser o símbolo do homem à procura de paz, e à direita figuras de mulheres em poses “curiosas”.

Tudo não passaria d' isso mesmo: um painel de azulejos que presta homenagem ao mar – ali fica a Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA) – e aos vários riscos que as gentes que dele tiram sustento enfrentam – talvez maiores do que aqueles que Ulisses teve de enfrentar. Mas a poses! As poses senhores!

Que ousado foi Leonel Vieira em trazer para a luz de Lisboa Sereias! Sereias tal qual Homero as descreveu!

Porque, de facto, fiquei surpresa. Porque, do meu ponto de vista, o painel merece ser dado a conhecer, deixo o convite para uma visita e os Parabéns ao autor.