Reencontrar e ousar
Costumava vê-los em finais de Agosto alvoroços de Setembro. Vinham aos magotes, em carroças, viviam debaixo de lonas verdes, que montavam qual barraca, e traziam à terra, onde cresci, um misto de alegria e medo até final do mês de Outubro.
Nos campos as uvas maduras indicavam que a vindima se aproximava, nas figueiras os figos lembravam que o Outono estava a um passo, as andorinhas num vai e vêm constante preparavam-se para mais uma viagem rumo ao Sul. Eles, eles lá estavam nas suas barracas montadas bem perto da escola que por aqueles dias inaugurava mais um ano lectivo. Elas, elas tinham saias compridas, longos cabelos negros e muitos, muitos, filhos. Ah! E havia sempre muita roupa estendida, a enxugar.
Mas de tudo o que mais retenho, até porque menina que se prezasse não metia conversa com ciganos, é o cheiro a melancia. Um fruto que, quase de certeza, era o alimento único daquela gente que ali tão só procurava uns dias de trabalho, nas vindimas ou na apanha do tomate ou da azeitona. Sim, porque cigano que "se preze" não tem pouso, lugar certo e acompanha o Vento.
Vem tudo isto a propósito dos ciganos que encontrei há dias numa das estradas secundárias no Alentejo. Há anos que não via aquelas carroças, aquela gente que muda de terra ao sabor do Vento. Não eram aos magotes, mas foram os suficientes para recordar porquê sempre que cheira a melancia associo o aroma, a textura, a ciganos.
Foi lindo. Lindo, ver jovens e velhos ciganos nas suas carroças, com uma parelha de cavalos suplentes presa atrás e bem lá do alto dos seus pertences, dirigirem-se para onde só eles sabem.
Não resisti e parei os meus cavalos – movidos a gasolina – para assistir à debanda. Eles sorriram e, talvez por verem a minha expressão de quase euforia, fizeram-me “Adeus”. Retribuiu-lhes e senti-me bem comigo mesma.
Afinal… tanta coisa mudou desde a minha infância. Já cá não estás para te dizer, mas… eles apenas são pessoas que buscam um amanhã, que necessitam de seguir o Vento e por isso não assentam arraiais, num local que digam seu. Tu sabias disso, eu sei, mas dizias-me sempre para não parar perto deles e, se possível, evitar falar com eles… Desta vez não resisti: para além de ter ficado a vê-los seguir o seu destino, meti conversa com uma cigana. Sim, é que noutro local do Alentejo uma delas, bem simpática e que deve ter mais ao menos a minha idade, tinha um avental preto “decorado” com uns simples alfinetes com missangas…
Nos campos as uvas maduras indicavam que a vindima se aproximava, nas figueiras os figos lembravam que o Outono estava a um passo, as andorinhas num vai e vêm constante preparavam-se para mais uma viagem rumo ao Sul. Eles, eles lá estavam nas suas barracas montadas bem perto da escola que por aqueles dias inaugurava mais um ano lectivo. Elas, elas tinham saias compridas, longos cabelos negros e muitos, muitos, filhos. Ah! E havia sempre muita roupa estendida, a enxugar.
Mas de tudo o que mais retenho, até porque menina que se prezasse não metia conversa com ciganos, é o cheiro a melancia. Um fruto que, quase de certeza, era o alimento único daquela gente que ali tão só procurava uns dias de trabalho, nas vindimas ou na apanha do tomate ou da azeitona. Sim, porque cigano que "se preze" não tem pouso, lugar certo e acompanha o Vento.
Vem tudo isto a propósito dos ciganos que encontrei há dias numa das estradas secundárias no Alentejo. Há anos que não via aquelas carroças, aquela gente que muda de terra ao sabor do Vento. Não eram aos magotes, mas foram os suficientes para recordar porquê sempre que cheira a melancia associo o aroma, a textura, a ciganos.
Foi lindo. Lindo, ver jovens e velhos ciganos nas suas carroças, com uma parelha de cavalos suplentes presa atrás e bem lá do alto dos seus pertences, dirigirem-se para onde só eles sabem.
Não resisti e parei os meus cavalos – movidos a gasolina – para assistir à debanda. Eles sorriram e, talvez por verem a minha expressão de quase euforia, fizeram-me “Adeus”. Retribuiu-lhes e senti-me bem comigo mesma.
Afinal… tanta coisa mudou desde a minha infância. Já cá não estás para te dizer, mas… eles apenas são pessoas que buscam um amanhã, que necessitam de seguir o Vento e por isso não assentam arraiais, num local que digam seu. Tu sabias disso, eu sei, mas dizias-me sempre para não parar perto deles e, se possível, evitar falar com eles… Desta vez não resisti: para além de ter ficado a vê-los seguir o seu destino, meti conversa com uma cigana. Sim, é que noutro local do Alentejo uma delas, bem simpática e que deve ter mais ao menos a minha idade, tinha um avental preto “decorado” com uns simples alfinetes com missangas…
1 Comments:
At 3:49 da tarde, vega said…
Senti-me lá, acredita
:o)
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