upa-pacima

...que a vida continua!

domingo, julho 22, 2007

Uma noite alternativa, ou o ir e voltar a uma realidade envergonhada


A companhia prometia e o roteiro era irrecusável. Inegável para alguém que sempre teve curiosidade em saber como era o outro lado de sentimentos genuínos, mas que a sociedade pune. Reprime porque não faz parte do estereótipo social, porque vivemos num país que se diz laico, mas onde a Igreja é um dos educadores. Reprime porque há uma falsa moralidade (isto escrito por mim pode soar a mel para alguns ouvidos, mas quem me conhece sabe que eu sou assim, que “funciono” na base do respeito e que não julgo ninguém pela tendência sexual. Já pela maneira como fala ou se comporta em determinados locais… aiiiiiiiiiii ai é melhor ficar por aqui!). Abafa porque muitas vezes não há a coragem em assumir que nem todos somos iguais quando o assunto é “sentimentos”, que é na diferença que está a Humanidade.

Voltando à viagem pela noite lisboeta… tenho de “tirar o chapéu” a tudo aquilo que vi, ouvi e senti.

Vamos por partes. Nalgumas saídas pela noite alfacinha já havia estado em bares ditos alternativos, onde a clientela é conotada por “lésbicas” ou “gays”. Nunca me senti discriminada, ainda que num bar “gay” tenha experimentado a sensação de “estar a ser fuzilada”. Quanto à clientela feminina… devo ser transparente!

Ontem não foi diferente e acabou por resultar numa das melhores noites dos últimos tempos. Com as ruas do Bairro Alto a transformarem-se à medida que a noite avança, numa espécie de metamorfose que passa do pitoresco ao lugar de culto, de boémia, de encontros e desencontros, onde os homens deixam qualquer gaja de olhos em bico (pena que olhem para nós com indiferença), o Bairro é… o Bairro.

Mas a surpresa estava reservada para o fim. E esqueçam o Trumps e todos aqueles locais que gajo que é gajo só vai para "gozar o prato", ou que gaja vai com receio de ser apalpada por uma das suas. Depois da melhor viagem de táxi de todos os tempos, onde fui ao lado da condutora Filomena, uma mulher angolana que tem alma de taxista, chegámos à “Maria Lisboa”, ali para os lados de Alcântara, um espaço alternativo aberto ainda não tem seis meses.

Gerido por mulheres e aberto a todos aqueles que Respeitem todos os Outros, o “Maria Lisboa” proporcionou-me horas pela noite lisboeta que jamais esquecerei.

Não fiz nenhuma viagem (aquela que muitos teimam em dizer que uma vez feita não tem retorno), nem tão pouco senti tentação para a fazer, mas nunca vou esquecer a naturalidade com que vi mulheres assumirem sentimentos e sem qualquer rasgo de censura beijarem a companheira. Homens sem complexos ou vergonha acariciarem o companheiro que amam.

Foi, de facto, uma das melhores noites. Não posso negar que a companhia (uma menina e um menino) também contribuiu para que eu tenha realizado um desejo. Um fetiche (no bom sentido, claro!) que era ver ao vivo e a cores pessoas a demonstrar sem medo, sem censura, sem complexo, o amor que sentem por alguém do mesmo sexo.

A noite é para repetir, espero. Afinal… Lisboa tem uma luz mágica ao romper do dia e o Rossio fica fantástico quando o castelo deixa passar os primeiros raios de Sol.

terça-feira, julho 17, 2007

A magia do Chiado

Agora que estou um pouquinho fora do conforto, dos mimos, dos “ralhetes”, dos almoços maravilhosos (sim, aqueles onde vocês reclamavam quando eu juntava no mesmo prato, lado-a-lado, pizza e salada de frutas) com este grupo que um dia se comprometeu em "postar" aqui, vou dar o meu melhor e, de quando em vez, contar alguma peripécia do meu dia-a-dia.

Dias diferentes daqueles que vivi como todos vocês nos últimos anos. Horas que passo no seio de "uma família" que gosto, mas onde (ainda) não sinto o afecto, a gratidão e algo que não consigo descrever. Talvez possa definir esse "algo" por "sentimento", que o é. Mas que não consigo passar para as teclas. Não consigo que saia de dentro. No entanto, não deixa de ser curioso que eu, mulher de gémeos, que muita gente diz não se prender a coisa alguma, tenha experimentado o significado da palavra “Saudade” em relação a um lugar. O Chiado.

Verdade. É sabido como, de quando em vez, eu sinto necessidade de sentir a força da terra ribatejana, mas... se não for num fim-de-semana será no próximo. Mas... o Chiado! O que será que tem? Qual a magia?

Aconteceu comigo! Comigo que durante sete anos caminhei diariamente por lá e nunca tinha percebido como é bonito, como os sons são diferentes, como a luz é mágica, como o cheiro é único.

Aconteceu comigo! Comigo que estava sentada algures na cidade de Lisboa e senti saudades do Chiado, do burburim do Chiado.

Aconteceu comigo sair do Metro e sentir o meu corpo revitalizar depois de um dia de trabalho. O sol incidia na calçada e a luz era única, a música eram os sons do Chiado, das várias línguas, os cheiros lá estavam, as pessoas, como sempre, sentadas na esplanada...

Que magia tem o Chiado? Que força me levou até ao Chiado, um pedaço de Lisboa que pisei durante anos sem nunca ter dado conta de quanto bonito era? Um pedaço de uma cidade que não é minha, mas onde me sinto parte integrante?