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quarta-feira, agosto 30, 2006

Pecar no Império

Fui estrear-me no Império. Senti-me vagamente a cometer o pecado da carne ao lado da casa do Senhor. Mas foi vagamente. Logo o ambiente me chamou à pedra.
Um porteiro, sem ar disso, indicou-me onde havia de esperar. A sala estava cheia. Antigos clientes e penetras como eu queriam um bife. Havia vários. Vários, mais de uma dúzia, eram os empregados de mesa. Agitavam o suor do rosto e as camisas empapadas, por entre as mesas.
Eu esperei. E esperei, e lá vagou a mesa. Em boa verdade, nem esperei muito e fui apreciando o ambiente.
A decoração é muito eclética. Mesas de madeira grossa e clara, à 'cervejaria moderna', e cadeiras forradas a veludo, à Império. A casa não era minha, não discuti o gosto. Só estranhei a humidade das toalhas da mesa, que deviam ter acabado de sair da máquina de lavar. Abri os cotovelos, primeiro, e acabei por me recostar na cadeira para não me sentir a sair do duche. Esperei. Esperando, lá me ignoraram. Até que cansada de salivar quase deito a mão à fralda da camisa de um atarefado empregado de mesa. Traz-me a ementa, curta e colorida, para não haver esquisitices: gostei. Peço o bife à Império.
Esperei, e esperei... E esperei, até que: ei-lo!
Enquanto isto, vários empregados com ar de cozinheiros, com aventais que foram brancos mas já não eram, circulavam entre as mesas com tuperwares de massa, bifes, sei lá... Até uma garrafa de óleo de cinco litros quase vazia passeou por entre os clientes na sala do restaurante. E mais uma sopa escada acima, uma mousse escada abaixo, um frenesim que fazia o único dos empregados de mesa habilitado a entregar os pedidos aos clientes suar em bica. Temo que dessa forma muitos bifes tenham sido benzidos!...
Os empregados, sim, foram a pérola da observação. Entradotes quase todos, camisa cinzenta, calça cinzenta às riscas miúdas e quase sempre um bigodinho dos tempos da outra senhora. Os mais novos tinham uma 'farda' aleatória. Quadros dos Artur Garcia e Milus de antanho continuam escarrapachados nas paredes. Só não percebo porque se esqueceram do José Cid...
A decoração do Império tem de fazer um up gradezinho, convinhámos. Mas noutras coisas inovaram: há t-shirts a dizer Império, no merchandising do sítio, e não Hard Rock Café !
Além disso, deu para ver que clientes habitués regressaram cheios de curiosidade para saber da boca dos próprios empregados de mesa como tinha sido a reconquista do Império.
E foi assim que - apesar dos pequenos computadores (?) de bolso em que os empregados de mesa davam os primeiros passos na cibernética arte de enviar à distância, da mesa para a cozinha , o pedido do cliente - lá voltei a esperar amargamente pela conta uma boa meia hora. Porquê? À minha volta todos os empregados estavam assoberbados a matar saudades dos clientes, em amena cavaqueira.

Resumindo: o bife é à Império -divinal! - mas o serviço é bem à portuguesa.

1 Comments:

  • At 1:36 da tarde, Blogger Rituka said…

    Essa descrição dos empregados faz-me lembrar o meu primeiro contacto com francesinhas, na bela Ribeira do Porto... Um nojo!!!

     

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